estrutura do mvp: função, fluxo e forma
o que é necessário para ter um mvp realmente útil desde o primeiro dia no mercado?
quando decidi empreender uma startup pela primeira vez, em 2013, quis compartilhar meus aprendizados com as pessoas que conhecia, mostrando mais sobre a vida real empreendedora.
um dos maiores desafios que vivi nesse período foi o de construir um MVP sem um perfil CTO no time fundador, isso me forçou a aprender mais tanto sobre a definição de MVP quanto sobre o que é necessário para ter a estrutura que garanta a construção do produto por profissionais externos ao negócio.
depois de apoiar algumas dezenas de startups a colocarem um MVP no mercado, resolvi fazer um compilado do que é necessário para ter uma primeira versão de produto para oferecer ao mercado… mesmo que a um perfil inicial de potenciais clientes.
te ter aqui na kamelo é uma honra, compartilhar experiências faz parte dos meus maiores objetivos profissionais e saber que consigo fazer isso por aqui é gratificante.
o que é necessário para ter um MVP no mercado?
vamos começar pelo básico, o que se espera de um MVP é uma estrutura de produto construído a partir do conjunto mínimo de funcionalidades que façam sentido aos perfis early adopters que o usarão.
há algumas semanas compartilhei uma edição da kamelo falando mais sobre o que define um MVP e como isso pode simplificar o processo para validação de um primeiro modelo de negócio.
nessa edição vou tratar sobre os três pilares que dão base ao MVP e que o fazem ter sentido quando utilizados por potenciais clientes.
para chegar nessa abordagem, precisamos estar na mesma página sobre a diferença entre produto e protótipo. ainda vejo muita gente usando protótipos como produto, o que inviabiliza o primeiro objetivo de um produto: validar o modelo de negócio com vendas!
os protótipos são estratégias importantes para emular algo que será proposto pelo produto, despertando o interesse do mercado, mesmo que esse interesse seja objetivo sem uso direto.
um bom exemplo de como os protótipos podem despertar interesse das pessoas sobre o produto é o caso do dropbox que, com um video conseguiu atrair atenção de milhares de pessoas com a proposta de uma nova nuvem para arquivos digitais.
a adoção de protótipos é fundamental para descobrir quais fatores de atração trarão o mercado para perto.
diferentes de um vídeo demonstração é a entrega de um produto inicial que consiga entregar um ambiente de uso que reflete o que foi provocado anteriormente. imagina a expectativas das primeiras usuárias do dropbox quando tiveram acesso à plataforma?
quais os pilares de um produto?
todo produto deriva a composição entre três elementos:
funções - as funcionalidades garantem que o produto terá um uso efetivo, é a engenharia por trás da solução;
formas - o produto precisa ser entendido como um elemento completo, ou seja, ter uma usabilidade com começo, meio e fim;
fluxos - todo produto é construído sobre uma lógica que garante a fluidez na entrega de valor às suas usuárias.
entender como esses três f's são entendidos no seu contexto é o ponto de partida para construir um MVP capaz de não só chamar atenção do mercado, mas garantir primeiras vendas. o valor é percebido quando o produto oferecido faz sentido.
garanta que o grande objetivo da sua versão inicial de produto está claro para quem o usar.
uma boa referência para pensar na construção de um MVP é imaginar o processo criativo do Lego, onde o ponto de partida é definir um fluxo de construção que termine numa imagem que faça sentido.
nesse caso a engenharia garante o encaixe ideal das peças, a forma garante que a imagem obtida no final de processo está de acordo com o que foi oferecido na caixa do produto e o fluxo dá sentido à construção, ou seja, cria uma visão de jornada que usa as funcionalidades para entregar valor com uso direto.
o fluxo é a liga entre função e forma, sendo a lógica que precisa refletir o que foi proposto em percepção real. colocar um primeiro produto nas mãos do mercado traz grande responsabilidade.
qual aprendizado prévio necessário para construir e entregar um MVP ao mercado?
o conceito de solução (o objetivo central) precisa estar validado com os perfis que interessam ao negócio, a solução é importante para entender se sua startup tem capacidade de resolver o problema identificado;
os protótipos construídos e testados possibilitam definir uma forma base do produto, dando clareza às funções que são essenciais para a transmitir uma lógica;
o primeiro modelo de negócio precisa ser definido e integrado às estratégias de comunicação e geração de interesse que será validado a partir do momento que o produto estiver lançado.
se você ainda não tem esses aprendizados básicos obtidos pela relação direta com o mercado, não construa um MVP, a chance dele não fazer sentido ao público alvo é grande.
ter sentido não é a mesma coisa de ser assertivo, a assertividade depende de tempo e uso. no início você vai errar nas abordagens, no conjunto de funcionalidades e até na capacidade de gerar percepção de valor, mas você não pode errar no propósito do produto.
a construção de um MVP não precisa ser lenta nem burocrática, contudo esse processo de torna ágil a medida que aprendemos sobre os aspectos que dão base ao produto.
🏗️ transforme a lógica em uma arquitetura
a lógica do produto é como o “manual” de uso, por isso que ela define um fluxo que faça sentido ao mercado.
a lógica deriva do entendimento sobre a solução e pode ser consolidada com algumas ferramentas que permitem visualizar o funcionamento da solução em etapas. a lógica precisa levar as usuárias do produto ao seu objetivo central, um passo por vez para gerar percepção de valor.
uma dessas ferramentas que podem ajudar na construção e consolidação da lógica do produto é o service blueprint.
com a lógica de funcionamento bem visualizada é possível construir um "desenho” do produto, considerando todas as especificações técnicas e pontos de ênfase que precisam ser dados para garantir que a jornada de uso faça sentido e reflita a proposta de valor.
a esse desenho com as especificações técnicas chamamos de arquitetura do produto, arquitetura que se for bem feita pode agilizar o processo de desenvolvimento.
na minha primeira experiência empreendendo uma startup, me especializei no desenho do produto, dando não só uma cara visual, mas conectando os elementos técnicos essenciais para cumprir a proposta de valor. foi dessa experiência que pude contratar um grupo de desenvolvedores externos e, com a arquitetura do produto, entregaram uma versão inicial em dois dias!
gastar tempo fazendo o desenho técnico do produto pode não só agilizar o desenvolvimento, mas economizar muito dinheiro que acaba sendo gasto com retrabalho e ajustes por mal entendimento sobre o que precisa ser feito.
🏓 busque as formas mais simples para quem usará
um bom MVP precisa entregar valor o mais rápido possível, por isso que “a cara” do produto não pode ser confusa para as usuárias.
a forma do produto é percebida desde a comunicação feita para captar pessoas interessadas pelo produto, ela ajuda a conduzir os argumentos de conversão, atraindo os perfis mapeados como early adopters.
lembre-se que suas clientes não precisam entender como seu produto foi construído, mas sim como ele funciona na prática. esse entendimento não é passado sem uso, por isso a importância de pensar na jornada de uso do MVP mais simples e objetiva.
uma boa arquitetura ajudará demais na construção de um MVP cuja forma é auto-explicativa nas mãos desses early adopters, esse é o resultado chave para chegar na validação do primeiro modelo de negócio.
por mais que o produto tenha potencial de se tornar um divisor de águas no mercado, é importante que seu MVP precisa seja muito bom em algo específico e esse algo é o que desperta rapidamente a percepção de valor com uso.
podemos voltar ao exemplo do dropbox, a percepção de valor aconteceu quando as usuárias acessaram um conjunto de arquivos digitais remotamente… era nisso que o MVP precisaria ser muito bom, só nisso!
🧰 só desenvolva as funções essenciais
há um desejo comum entre as(os) empreendedoras(es) de entregar o melhor produto possível desde sua primeira versão, o que contradiz totalmente o sentido de entrar no mercado com um MVP.
a versão inicial de produto é definida pelo conjunto de elementos essenciais, nada mais que isso. por isso, antes de sair desenvolvendo funcionalidades para seu MVP faça um exercício de priorização que aprendi 10 anos atrás e continuo usando até hoje:
gosto de pensar no MVP como um carro básico (como tenho falado), sabendo disso há dois tipos de funcionalidades: as essenciais e os acessórios que vão definir como esse carro sairá da fábrica para rodar nas ruas.
dessa forma, sempre que uma nova funcionalidade é colocada na mesa para compor o MVP eu me pergunto, essa é uma funcionalidade que impediria o carro rodar pelas ruas?
não faz sentido colocar um carro à venda sem um volante, sem o banco da motorista ou sem o pedal do freio… essas são funcionalidades essenciais para que o carro entregue a sua proposta de valor: a dirigibilidade.
por outro lado, vidro elétrico, ar-condicionado, direção elétrica ou uma multimídia com Apple Car Play pode ficar para as versões mais chiques do carro, nenhuma delas interfere na proposta de valor, mas irão ajudar a fidelizar clientes pela experiência de uso.
aprenda a eliminar o máximo de funções acessórias do seu MVP, nesse primeiro momento você precisa focar na qualidade dos itens essenciais, eles que formam a percepção de valor e geram as primeiras vendas.
👷♀️ todo MVP é um arranjo dos três pilares
o bom MVP consegue despertar interesse do mercado, converter primeiras clientes e reter o perfil early adopter, perfil que se mantem engajado com o produto, ajudando no direcionamento estratégico para evolução.
desde a comunicação inicial até o pagamento pelo uso do produto, tudo precisa convergir para um grande objetivo: gerar percepção de valor que aumentar a assertividade na conquista do Product-Market Fit.
lembre-se o que disse Reid Hoffman, fundador do LinkedIn:
se você não sentir vergonha da primeira versão do seu produto, você demorou demais para lançá-la ao mercado.
kamelo
toda segunda cedinho chega uma nova edição da kamelo abordando temas que ajudam na criação e desenvolvimento de startups, tudo feito a partir de experiências, conversas e pesquisas diárias.
🤝 quer criar conteúdo comigo aqui na kamelo? basta responder esse formulário rápido para entender um pouco mais do seu contexto.
🎖️ agora, se você quiser compartilhar o case da sua startup aqui na kamelo, responde esse outro formulário para eu conhecer sua startup.
📱 será ótimo estar conectado contigo no linkedin e no threads!
nos vemos na próxima edição 🤗