o que aprendi analisando mais de 1.200 startups
Entender que não há atalhos para alcançar resultados relevantes é um diferencial do perfil empreendedor que sabe liderar startups
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A provocação de hoje vem de um perfil empreendedor que encontro com certa frequência. Perfil que busca resultado financeiro antes de construir uma estrutura mínima de negócio que justifique e sustente a conquista de resultados relevantes.
A jornada de qualquer startup pede um processo de construção que valide hipóteses e direcione a assertividade nas tomadas de decisão. Esse é o ponto de partida para conversarmos sobre como o desenvolvimento de startups não tem atalhos!
Perfis empreendedores opostos
Nas conversas com empreendedoras(es), é fácil perceber que há dois perfis opostos comuns. Os perfis influenciam diretamente a forma como os negócios serão conduzidos, o que é priorizado e a qualidade dos resultados gerados ao longo da jornada.
1️⃣ Perfil Construtor
Quem empreende com foco na construção de estruturas que "parem de pé" e sobrevivam às adversidades do mercado tem características de construtor.
O construtor quer crescer e ter uma startup que seja rentável, mas sabe que, para isso, é fundamental construir uma base sólida com conceitos bem validados. Fundamentar bem a startup tem a premissa de aumentar a assertividade nas tomadas de decisão.
Esse perfil empreendedor entende a importância dos aprendizados como referência para definir as estratégias que impulsionem o crescimento da startup sem deixar de lado os modelos resistentes às oscilações do mercado.
2️⃣ Perfil Arranjador
Quem está empreendendo para chegar rápido aos resultados financeiros adota um comportamento pensado em “dar um jeito” sempre que um problema aparece. Lendo rápido, parece ser o perfil ideal para quem está à frente de uma startup. Com o tempo, é fácil perceber como esse comportamento pode ser prejudicial ao negócio.
O arranjador tem a característica de fugir da resolução de problemas complexos, passando por cima dos momentos de aprendizado. É aqui que esse perfil pode colocar a jornada em risco por não dar a devida atenção aos aprendizados práticos e, claro, por não ter uma boa fundamentação.
Fazer mais rápido pode trazer resultados financeiros. É comum que esses resultados sejam o tal “voo de galinha”, cujos impactos não têm sustentação no médio prazo.
Lançamos nosso grupo da Kamelo no WhatsApp! Agora teremos mais conversas e trocas de experiências que podem acelerar sua jornada empreendedora:
O desenvolvimento de qualquer startup exige muito da capacidade de aprendizado rápido — não só de execução rápida! O comportamento empreendedor (baseado nos perfis acima) também muda conforme o momento de evolução da startup, começando pelo antes e depois da entrada do produto no mercado.
ANTES de entrar no mercado – Tudo que é feito antes de lançar um produto no mercado é levantar hipóteses, validá-las e priorizar o que é necessário fazer parte do MVP. Por mais que tenhamos técnicas de validação, o objetivo é que o time fundador tenha confiança na tomada de decisão que direciona o negócio ao mercado.
Quem passa bem por essa etapa inicial consegue construir um MVP com uma proposta de valor que se conecta com as demandas do mercado — pelo menos com os perfis de early adopters que são buscados após o lançamento.
Quando não há conceitos bem validados, os argumentos para o lançamento são fracos. O primeiro reflexo disso é ver produtos de baixo impacto, como se estivessem atendendo primariamente às ideias, e não às validações.
DEPOIS de entrar no mercado – Se há um produto no mercado, há o que medir. Após o lançamento, espera-se que as(os) empreendedoras(es) tenham capacidade para estabelecer e executar estratégias de atração e retenção de clientes.
Há fundadoras(es) que deixam de lado o tempo para construir inovadoras e racionais soluções, e implementam estratégias rasas, com foco em resultado rápido, sem objetivos bem definidos e métricas que mitiguem riscos.
Buscar resultado financeiro antes de consolidar um primeiro modelo de negócio (que é a base para uma projeção financeira minimamente viável) cria um cenário insustentável para a startup. Por mais que bons discursos ainda consigam captar investimento, é fácil perceber perfis empreendedores com foco distorcido.
Características empreendedoras que frustram a jornada
Ao longo dos últimos 8 anos, pude avaliar mais de 1.200 startups com modelos, mercados e times fundadores diversos. Nessas avaliações, o objetivo sempre é entender se (e como) a startup tem capacidade de levantar boas rodadas de investimento. Desde a primeira conversa com as(os) empreendedoras(es), é possível identificar características que podem frustrar a jornada:
Apresentar a experiência pessoal como justificativa para a falta de uma validação de qualidade. O conceito de qualquer startup se dá por uma combinação entre experiência e dados coletados no mercado. Construir um negócio baseado em uma opinião (por maior que seja) é um risco que pode ser mitigado, dando o tempo necessário para a validação;
Construir um MVP sem clareza sobre quais são as funções necessárias para garantir que o perfil early adopter tenha percepção de valor que gere as primeiras vendas. Isso mesmo: o MVP precisa gerar venda! Sem um bom processo para validar a solução, o MVP pode perder o timing do mercado pela construção de funcionalidades desnecessárias nessa versão mínima. Por outro lado, não defenda landing page com formulário para coleta de e-mail como MVP (não dá nem pra considerar como protótipo);
Ter uma estratégia de lançamento baseada em um nível de relacionamento frágil. A validação da solução não serve apenas para definir as funções do MVP, mas também para entender os argumentos de atração e conversão das(os) primeiras(os) clientes. Sem um entendimento mínimo sobre quais argumentos de conversão permitirão validar o 1º modelo de negócio;
Não apresentar abertura às mudanças que o mercado vai demandar à medida que a startup coloca seu produto nas mãos das(os) primeiras(os) clientes. Apresentar uma estratégia baseada em certezas inibe a visualização dos eventuais desalinhamentos da proposta de valor — que, mesmo com resultados iniciais, serão insustentáveis.
Jornadas são frustradas por empreendedoras(es) que distorcem o principal objetivo: modelos complexos alcançam sucesso por meio de uma rotina de execução e decisões que permitem aprendizado contínuo. Garantir que cada etapa do processo seja bem executada não cria burocracia nem trava a agilidade de crescimento. Execução de qualidade não é opcional para quem quer construir algo que faça real sentido no mercado.
Não procure por atalhos!
Obrigado por ter lido essa edição da Kamelo. Cada edição é uma oportunidade para refletir sobre nossas decisões ao longo da jornada. Envie essa edição:
Nos vemos por aqui na quinta, dia 20/03, com uma edição especial de 4 anos!
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