O que aprendi nos programas de aceleração
Lições que podem ser úteis na sua jornada empreendedora
Posso te fazer um convite antes dessa leitura?
Se você tem startup, estamos com chamada de aceleração aberta na Overdrives. São 6 meses de imersão, R$120.000,00 de investimento financeiro, acompanhamento hands-on baseado em OKRs, mentorias em mais de 15 áreas de negócio e muita conexão com o mercado. As inscrições estão abertas até dia 30/05 e será um prazer ter sua startup no processo de seleção 🤗: Esse é o link.
Agora sim, ao texto!
Esse é a primeira edição da quinta-feira da minha news Sobre Startups. Nas segundas trarei discussões em textos curtos e mais objetivos, já nas quintas lhe darei um pouco mais de informações que derivam das minhas experiências ou do que pesquiso.
Espero que você goste desses minutos de leitura :)
Lancei minha startup em Agosto de 2013, na época eu não tinha ideia de como seria essa jornada, onde o negócio chegaria e o que aprenderia. Eu só tinha uma coisa na cabeça, queria entregar para o mercado de logística um produto que desse maior eficiência à gestão de transportes através de uma tecnologia robusta e de simples usabilidade para as clientes.
No começo tínhamos o entendimento que a grande dor do mercado era a "consolidação de cargas", ou seja, o compartilhamento de espaço nos contêineres com itens de empresas diferentes. O software que fazia isso com maior grau de eficiência tinha 11% de margem de erro, ou seja, um contêiner cheio era um contêiner, pelo menos, 11% vazio.
Pela natureza do negócio, nossa estratégia tinha visão internacional desde o dia 1, por isso buscávamos entender como eram os cenários de transporte em outros países (uma vez que o Brasil se mostrava como um dos cenários mais complexos pelas burocracias associadas).
Foi dai que começamos a olhar oportunidades nacionais (como o SEED-MG) e internacionais com o Startup Chile.
Esses eram dois dos programas de aceleração que chamavam atenção por não tomar participação societária (equity) das startups. O SEED-MG abriria sua primeira turma no início de 2014, com uma proposta derivada do Startup Chile que já estava consolidado no país. Depois de inscrever a Lotebox nos dois programas, tivemos uma negativado SEED e uma positiva do Startup Chile, resultado, me mudei para Santiago para minha primeira experiência em programas de aceleração.
Foi uma experiência intensa, vários fatores pulsando ao mesmo tempo, primeira mudança, primeira vez em outro país, primeira vez empreendendo uma startup, primeira vez sendo acelerado... no meio disso tudo consegui tirar um aprendizado fundamental que mudou minha relação com esses programas e com minha própria startup: As aceleradoras se preocupam com o todo, com a execução dos processos, o foco de quem está empreendendo é a startup, e só.
Nessa época eu passei dias e mais dias imerso no desenho da nossa primeira versão de produto, como não tínhamos desenvolveras(es) no time, fiz o desenho em um fluxo escrito em um caderno quadriculado... esse fluxo se tornaria software em um trabalho de dois dias!
Quando percebemos que o Startup Chile não tinha na metodologia um acompanhamento mais próximo, ideal para nós em início de jornada, voltamos a tentar o SEED-MG, dessa vez para a segunda turma. Fomos aceitos e eu parti de Santiago para Belo Horizonte, conectando uma primeira experiência assustadora com a expectativa de aprender a ter startup.
Eu gosto de dizer que o SEED-MG me ensinou, antes de tudo, a empreender uma startup.
Nos seis meses de aceleração em Belo Horizonte, em contato com outras 39 startups que compuseram a segunda turma de aceleração do programa financiado pelo Governo Mineiro, fui acompanhado de perto pelo time que mantinha uma relação próxima, sempre nos provocando a repensar estratégias de negócio e testar modelos que fossem realmente viáveis.
Como resultado, conseguimos lançar, em dois dias de trabalho, uma primeira versão do nosso produto, focando no que seria o mínimo viável para organizar o compartilhamento de cargas e, com isso, realizando 120 transportes em pouco tempo. O convívio com as(os) outras(os) empreendedoras(es) me fez aprender algo fundamental sobre programas de aceleração: As pessoas que estão empreendendo suas startups são as melhores conexões para troca de experiência e aprendizado que podemos ter.
O SEED-MG foi uma grande escola, uma jornada de muito aprendizado, novas amizades, vários testes de produto e uma mudança estratégica que definiu o futuro da startup: O mercado não queria só o compartilhamento de espaço, essa era apenas umas das funções necessárias, mas o problema em si era a qualidade na gestão do processo de transporte. Com esse entendimento nosso produto evoluiu de forma mais assertiva (mas esse será o tema de outra newsletter!).
Com um pouco mais de visibilidade, as melhores aceleradoras começam a te querer.
No período do SEED-MG entregamos bons resultados de mercado, estávamos com boas oportunidades de crescimento e, na época, dois programas chamavam atenção, o Startup Brasil que concentrava as principais aceleradoras privadas do país e a Abril Plug and Play que nos levaria para uma aceleração no Vale do Silício. Fizemos o que toda startup deveria fazer: Nos inscrevemos nos dois e, se ambos nos aceitassem, poderíamos escolher qual caminho seguir.
Passamos nos dois programas, no Startup Brasil seríamos acelerados pela Wayra, mas pelo nosso interesse em conectar a plataforma com o Vale do Silício, optamos pela Abril Plug and Play, talvez a melhor decisão que tomamos, já que a Plug and Play tinha muita bagagem com startups, desde antes dos anos 2000!
O período inicial dessa aceleração foi em São Paulo, quando recebemos as primeiras mentorias em áreas técnicas de negócio desde o início da nossa jornada. O time da Abril conseguiu nos conectar com profissionais incríveis que despertaram áreas de conhecimento fundamentais para pensar nas estruturas da empresa, foi aqui que tive uma das lições mais importantes como empreendedor: As mentorias são pontes para expansão de conhecimento técnico e uma excelente oportunidade para expandir nossa rede de relacionamento com profissionais experientes e dispostos à trocar.
Com a primeira etapa do programa Abril Plug and Play comprido, chegou a hora de imergir em um dos principais ecossistemas de startups do mundo, o Vale do Silício. Como era de se esperar, as expectativas sobre o ambiente eram altíssimas, já que agora seríamos oficialmente uma startup do Vale, sendo acelerados por uma das empresas mais antigas e respeitada da região.
Meus amigos me diziam "agora sua startup vai ser sucesso, vai voltar do Vale milionário"... ainda bem que não fui pela cabeça deles. Mudamos para Sunnyvale, uma das cidades na baía de San Francisco e parte da região que compõe o Vale do Silício. A cidade em si não tinha muito o que fazer, nosso interesse estava no escritório da Plug com mais de 400 empresas residentes.
A realidade de ser acelerado no Vale é que (1) as metodologias são mais distantes das startups, fazendo com que cada time "se vire" e peça ajuda sempre que necessário, (2) há mentores que te acompanham em questões mais gerais, até comentei como essas mentorias generalistas podem ser prejudiciais às startups que não tiverem auto crítica e (3) A rede de empreendedoras(es) é uma das mais incríveis que você pode encontrar, além de muitas possibilidades de troca com pessoas das grandes empresas (desde que você saiba exatamente o que perguntar a cada uma). Esse período na Plug and Play trouxe muitos aprendizados, mas um ficará marcado: Se você estiver sendo acelerado no Vale não seja uma/um brasileira(o) no Vale, mas um(a) empreendedor(a) do Vale.
Depois de uma aula sobre tendências do mercado digital e de quase jogar minha startup no lixo por seguir "cegamente" os conselhos dos especialistas do Vale, entendemos que essa experiência serviu para amadurecer nossas relações com o mercado e buscar nele o modelo que entregasse vale real para a cadeia de transportes.
Com um modelo de negócio próprio e uma visão sólida de crescimento, partimos para o berço da logística, Rotterdam.
O porto de Rotterdam é o maior da Europa e o 3º maior do mundo, a cidade respira o porto há centenas de anos. Essa experiência histórica em logística motivou o porto à criar o PortXL, programa de conexão entre startups que atuam em segmentos de interesse portuário e as grandes empresas que usam o porto como ponto de entrar ou saída de mercadorias.
Poder abrir empresa na Holanda e ter o Porto de Rotterdam como um dos donos da Lotebox trouxe um grau de maturidade que nem imaginávamos ter um ano antes (quando estava no Vale). Ter os especialistas em logística abrindo as dinâmicas de mercado, o comportamento de consumo e as regulação para manter uma gestão de alta performance trouxe a grande lição que aprendi durante toda essa jornada empreendedora: Se você tiver a oportunidade de se conectar com especialista do seu mercado, use esse momento para dar saltos mais arriscados, mais que regras, métodos ou frases de efeito, seu mercado é um organismo vivo que precisa ser entendido continuamente... só assim você vai criar e entregar um produto que faça algum sentido.
Obrigado por ter lido 🤗
Eu adoro compartilhar minhas experiências, aprendo mais cada vez que revisito os momentos que vivi. Essa foi mais uma oportunidade de lembrar momentos, conversas, leituras e interações que marcaram de alguma forma minha jornada como empreendedor.
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☕ Pausa para o café
Assim como nos e-mails segunda, deixarei algumas sugestões de conteúdo complementar que podem ser consumidos durante um café, chá ou até uma cerveja. Dessa vez minha sugestão é um rico episódio do "Bom dia, Obvious" com a Marcela Ceribelli. Nesse episódio é falado sobre o "Show de Realidade", um cruzamento dos nossos comportamentos e os dos participantes do BBB21.
#90 / show de realidades, com Clara Fagundes
Depois de ouvir, me conta o que achou.
🤜🤛 Obrigado por ter lido
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