kamelo só para assinantes #003 | como negociar dívida na sua startup?
falar em dívida te assusta também?
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topa contrair uma dívida na sua startup?
confesso que só em ler a palavra dívida eu sinto a nuca arrepiar… mas e se a contração de uma dívida for uma decisão estratégica na sua startup? pode parecer estranho, mas as vezes é melhor ter uma dívida bem estruturada que um sócio que só atrapalha.
DIRETO AO PONTO
em que momento vale a pena contrair uma dívida?
o que é um financiamento bancário?
uma das práticas mais antigas, o empréstimo com dívida é pensado para dar um pulmão financeiro imediato às empresas, definindo as condições e prazos de pagamento com algum acréscimo de juros a partir de uma análise complexa das empresas demandantes (busca por garantias de pagamento).
o que [geralmente] é analisado nas empresas:
histórico financeiro para entender rentabilidade e potencial de lucratividade do negócio;
ativos e passivos que influenciam diretamente no pagamento da dívida em caso de falha;
projeção de retorno com o potencial de crescimento e de geração sustentável de receita;
outras garantias que deem segurança ao banco credor.
após a análise os bancos conseguem ter uma proposta de empréstimo, definindo valor máximo disponibilizado com todas as condições de pagamento e as taxas de juros ajustadas ao risco vs. potencial de retorno real.
até aqui está tudo certo… mas por que startups não conseguirão tomar financiamento bancário?
startups que [geralmente] não tem um histórico financeiro consistente nem garantias reais sobre o retorno financeiro do negócio, não conseguem passar pelos crivos de análise bancária, ou seja, é quase impossível uma startup inicial levantar um capital de giro para colocar um novo produto no mercado.
dai surge a figura do venture debt!
Gabriela Gonçalves da Brasil Venture Debt explica mais sobre essa modalidade de financiamento que vem ganhando espaço no Brasil.
o que é um venture debt?
uma forma inteligente de financiar startups, tomando como base outras estratégias de análise e outra base de negociação de retorno. essa é uma posição mais próxima da operação de um venture capital, porem sem interesse direto de conversão societária.
está confuso onde o venture debt se encaixa no contexto? deixa eu te fazer um resumão para aprofundar nesse tema:
(1) venture capital
investimento financeiro: imediato ou parcelado
análise de garantias: aquisição de parcela societária
projeção de retorno: venda da participação societária com múltiplos
risco: todo do perfil investidor
(2) financiamento bancário
investimento financeiro: imediato
análise de garantias: baseada no balanço entre ativos e passivos
projeção de retorno: pagamento de dívida com taxas de juros
risco: todo da empresa
(3) venture debt
investimento financeiro: imediato ou parcelado
análise de garantias: histórico de receita recorrente sólido
projeção de retorno: pagamento da dívida com taxas pré-estabelecidas
risco: compartilhado
ou seja, um venture debt pode ser entendido [de alguma forma] como perfil investidor, uma vez que compartilha o risco de insucesso com a tomadora da dívida… e, todo perfil investidor de startups sabe dos riscos associados ao negócio vs. o potencial de crescimento e, claro, retorno financeiro real.
por mais que estejamos que estejamos falando de financiamento com taxa pré-estabelecidas de retorno, o venture debt é capital de risco focado em startups que já tem alguma presença de mercado (as garantias que descrevi acima)… esse modelo trouxe novas estratégias para ser algo rentável aos credores e atrativo às startups.
como as startups podem comparar venture capital com venture debt?
(1) venture capital
investimento financeiro negociando participação societária;
diluição do cap table com regras e poderes aos perfis investidores;
plano de retorno pelo crescimento de receita e com novas captações financeiras;
define o valuation de mercado, ajudando [ou não] a entrada de novos perfis investidores.
(2) venture debt
investimento financeiro negociado com dívida e taxas pré-estabelecidas;
sem diluição do cap table nem poderes para interferir no negócio;
regras de retorno bem definidas e estruturadas para garantir pagamento;
não altera o valuation, mas pode influenciar a entrada de novos perfis investidores.
o risco para as startups é similar, uma vez que o sucesso dessa negociação virá no crescimento financeiro real do negócio ou, no pior caso, com a entrada de novas captações financeiras que "paguem" o que foi negociado anteriormente.
qual a primeira regra do venture debt?
a primeira regra para analisar uma startup e negociar uma proposta baseada em dívida é a mesma adotada pelos venture capitalists, capturando dados diretos e indiretos às startups para definir os riscos de insucesso vs. o potencial de crescimento e geração de receita real.
para as startups, contrair uma dívida com venture debt estará associado a uma boa apresentação sobre os resultados históricos e uma descrição clara dos objetivos de desempenho esperados após a entrada do financiamento. por mais que as startups não tenham ativos de garantia, os resultados prévios e as estratégias de crescimento podem ser boas garantias para um venture debt.
um ponto que precisamos considerar nas negociações de venture debt é que ela pode ser combinada com as estratégias de captação com venture capital para potencializar a conquista de resultados que tanto justifiquem a contração de dívida quanto com a entrada de novos perfis no quadro societário.
nesse caso, o venture debt pode prolongar o tempo de sobrevivência na geração de resultados [financeiros] reais que melhorem a negociação com venture capitalists. toda negociação de dívida é feita pelo contexto da startup, além de relacionar com os resultados históricos com os projetados.
não falei, mas você só conseguirá negociar dívida para startups que já operam no mercado com receita recorrente regular nos últimos meses… esses são fatores de garantia que vão [ou não] viabilizar uma proposta com condições viáveis de pagamento… ou seja, o debt acontece regularmente com quem já levantou um capital.
geralmente… o valor captado com debt = 25 - 50% da última captação financeira (com venture capital).
não tem debt para startups que não estão em operação
startups com captações prévias e resultados regulares de mercado dão maior abertura às negociações de dívida. os benefícios de negociar um venture debt estão atrelados ao aumento no tempo de vida da startup até uma próxima captação, sem comprometer o cap table.
perceba que o risco na negociação de dívida aumenta quando a startup não tem o mínimo de segurança para alcançar um resultado de mercado que dê possibilite o pagamento dos termos negociados… ou seja, as startups podem dar "passos maiores" tomando as dívidas como um "acelerador" desses resultados.
um venture debt vai:
aumentar o fluxo de caixa
aumentar a liquidez
não gerar diluição
qual o melhor momento para negociar dívida? considerando que isso vai gerar um passivo financeiro que precisa ser [bem] alinhado com o time fundador e todos os perfis investidores prévios.
no momento de um equity funding, onde o debt será um incremento no valor captado. alguns ventures capitalists (como o Silicon Valley Bank) já propõem uma captação que combina parte do valor negociado em venture funding para ações de médio prazo, parte em debt para ações de curto prazo, amortizando a diluição do cap table sem tirar o potencial de aumento de caixa.
entre rodadas de captação financeira. de modo a prolongar o tempo entre captações e dar uma "folga" na busca por resultados mais significativos que permitam uma melhor negociação [com equity] no futuro;
evitar uma diluição sem uma estratégia bem estabelecida. modelos de negócios sustentáveis (os que acreditamos aqui na kamelo) podem ter o venture debt como acelerador de resultados reais que darão maior solidez ao negócio;
para resolver fatores limitantes do mercado alvo. a negociação de debt pode ser projetada para uso de fatores regulatórios existentes no mercado alvo que "impedem" o desenvolvimento do negócio, como regulações com CVM e Banco Central que muitas startups fintech precisam ter para operar corretamente.
e se a startup não pode pagar o que foi negociado em dívida?
o risco do debt é compartilhado entre as startups e os perfis credores, por mais que a dívida seja da startup, os provedores da dívida sabem que esses são negócios com auto grau de risco e, mesmo assim, encontram formas de negociar condições que façam sentido.
por essa ser uma modalidade intermediária entre o venture capital e o financiamento bancário, o venture debt tem termos para quitação da dívida próprios, como a tomada de equity da startup. ou seja, assumindo o papel de venture capital, com todos os seus diretos atrelados.
mesmo assim, o equity é o menor garantia na relação de debt… mas é [quase] a única.
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referências finais
a CB insights conseguiu resumir [muito] bem a diferença entre venture debt e venture capital em uma imagem, lembre-se que esse é um modelo já consolidado nos EUA, então quase tudo que temos de informação deriva do que é feito por lá;
o Ricardo Giacomo fez um resumo bem legal também sobre o que é e como funciona o venture debt, por mais que o foco não sejam só startups, mas tem muita informação importante se você quer planejar esse tipo de captação para sua empresa;
a Trinity Capital foi a principal fonte de conteúdo para eu organizar essa edição da kamelo, no site deles tem muita coisa sobre esse tipo de negociação, vale a pena dar uma lida antes de buscar perfis que faça esse tipo de investimento em startups.
obrigado por ter lido!
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