Há algumas décadas, ter uma casa na praia era um símbolo máximo de sucesso e estabilidade. Mas os tempos mudaram. O que antes era sinônimo de status passou a ser visto, por muitos, como um ativo ineficiente. Caro para manter, pouco utilizado, difícil de gerir e cada vez mais desalinhado com os estilos de vida modernos. Foi nesse ponto de tensão entre o desejo e a realidade que surgiu a ideia por trás da MyDoor.
Conversamos com Roberto Pinheiro, CEO e fundador da empresa, para entender não só o modelo de negócio, mas também o que sustenta sua visão: um misto de experiência profunda no mercado imobiliário, sensibilidade para mudanças de comportamento do consumidor e uma mentalidade de execução clara sobre onde e como criar valor.
A base de tudo: uma trajetória de mercado real
Roberto não veio do hype do mundo tech. Ele é engenheiro civil, com 25 anos de atuação no setor imobiliário. Começou em canteiros de obra e passou por áreas de novos negócios em grandes incorporadoras, mergulhando na lógica de aquisição de terrenos, estruturação de produtos e estratégias de vendas. Mas foi quando atuou em uma empresa de hospitalidade que o jogo virou: ele uniu a mentalidade da incorporação com a entrega de experiências. A fusão dessas vivências abriu espaço para uma tese nova, madura e adaptada ao nosso tempo.
O resultado foi o nascimento da MyDoor, em 2022, em plena fase de transformação do mercado pós-pandemia. Um momento em que o sonho da segunda residência voltava à pauta, mas com novas exigências: flexibilidade, curadoria, custo-benefício, eficiência patrimonial.
A proposta: patrimônio com experiência
Na essência, a MyDoor oferece segundas residências de alto padrão em destinos de lazer (casas de praia, campo e montanha) com uma abordagem compartilhada. Cada imóvel é estruturado por meio de uma sociedade imobiliária, com até 8 cotistas. Cada um tem seu percentual de uso garantido, com gestão completa da casa, padronização do serviço e uma experiência personalizada de ponta a ponta.
Mas a empresa não parou aí. A mais nova frente, o MyDoor Club, aprofunda o conceito de “segunda residência como serviço”. O modelo de assinatura permite que membros paguem uma mensalidade e recebam créditos para usar as casas disponíveis no portfólio que hoje abrange destinos como Trancoso, Praia do Forte, litoral norte de São Paulo, Ceará e até Miami. Tudo com o mesmo padrão de curadoria e atendimento que já caracteriza a MyDoor.
Esse sistema oferece um caminho de entrada mais acessível: quem deseja testar a experiência pode começar pelo clube. E se gostar, pode migrar para o modelo de copropriedade. O contrário também é válido: cotistas podem usar o clube para ampliar sua gama de destinos. Um ecossistema que se retroalimenta.
Por que isso faz sentido agora?
O momento de mercado não poderia ser mais favorável. Dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) mostram que o setor imobiliário vive um aquecimento relevante. O VGV atingiu R$ 53 bilhões no segundo trimestre de 2024, 20% a mais do que no ano anterior. E o acumulado de 12 meses aponta R$ 203 bilhões, em um crescimento sustentado por mudança de perfil de consumo.
Mais do que aquecimento, o que temos é transformação. A lógica de propriedade mudou. O modelo “comprar para ter” cede espaço ao “comprar para usar com inteligência”. O setor de hospitalidade e mobilidade abriu as portas para isso. Agora é a vez do imobiliário.
Nos Estados Unidos, mais de 50% dos barcos e aviões executivos já são compartilhados. No Brasil, esse índice ainda é de 5%, mas a tendência é de crescimento acelerado. E nas casas de veraneio, o problema da subutilização é ainda mais gritante: 80% do tempo elas ficam fechadas. O modelo da MyDoor inverte essa equação: paga-se proporcional ao uso, com o bônus do patrimônio e da experiência personalizada.
Airbnb? Nem sempre.
Um argumento recorrente contra esse modelo seria: “mas por que não alugar uma casa pelo Airbnb?”. E aqui está um dos pontos mais fortes da MyDoor. A imprevisibilidade de plataformas de aluguel por temporada, que oscilam entre boas e péssimas experiências, é substituída por curadoria, padronização e serviço. Ao comprar uma fração ou assinar o clube, o cliente da MyDoor sabe exatamente o que esperar: da roupa de cama ao concierge, da planta da casa à agenda de ocupação.
Esse é o tipo de previsibilidade que se busca no luxo contemporâneo. E é também o tipo de vínculo que transforma o cliente em defensor da marca.
Crescimento com inteligência
Crescer nesse mercado exige mais do que capital. Exige conhecimento local, estrutura operacional e padronização. A MyDoor decidiu crescer com estratégia. A atuação está concentrada hoje em São Paulo e Bahia, com operação pontual no Ceará e parcerias internacionais.
O foco atual está em aumentar a densidade por destino, antes de expandir geograficamente. Isso facilita a gestão da hospitalidade, garante uma melhor experiência ao cliente e permite ganhos de escala na operação, desde o time até o uso de fornecedores locais.
Roberto foi categórico: “Crescer pulverizado demais, cedo demais, compromete a qualidade. A gente prefere dominar bem cada praça”.
A captação e o valor do smart money real
A MyDoor captou sua primeira rodada em 2022. O capital foi essencial para estruturar o time, desenvolver a plataforma e dar os primeiros passos comerciais. Mas o aprendizado maior, segundo Roberto, foi sobre o tipo de investidor que faz sentido para o negócio.
Para a nova rodada, o foco é claro: smart money de verdade. Nada de discurso bonito, o objetivo é trazer parceiros que conheçam o setor, tenham experiências complementares, possam abrir portas e ajudar na expansão do portfólio e da estrutura de funding. Em negócios com operações complexas como o da MyDoor, o investidor precisa entender o tempo, os ciclos e as alavancas certas.
O papel do CEO: do tijolo à experiência
Talvez a parte mais inspiradora da conversa tenha sido sobre o papel do CEO. Porque Roberto não está só liderando, ele está dentro do negócio, cuidando de terreno, negociando imóveis, lidando com contratos, tocando a vertical de novos negócios diretamente.
Ele sabe que esse envolvimento será temporário, mas necessário. E entende que o verdadeiro papel do CEO, especialmente em modelos operacionais e patrimoniais como o da MyDoor, é criar confiança. Com os clientes, com os sócios, com os investidores e com o time.
É ele quem traduz a estratégia em execução. Quem representa o negócio nas conversas duras. Quem precisa tomar decisões rápidas e ter resiliência para voltar ao jogo no dia seguinte, mesmo quando tudo parece ter saído dos trilhos.
Como ele mesmo disse: “Tem dia que dá tudo errado. E no outro dá tudo certo. E vice-versa. A gente vai tocando nessa balança”.
Por que acompanhar a MyDoor de perto?
A MyDoor está criando um novo jeito de lidar com imóveis de alto padrão. É uma combinação rara de:
Visão de mercado clara;
Execução profissional com profundidade técnica;
Modelo testado em grandes mercados (como EUA), mas adaptado ao Brasil;
Curadoria e serviço como diferenciais competitivos;
Crescimento sustentável e busca real por smart money.
Para quem acompanha o mercado de inovação, esse é um case que mistura proptech, hospitality, fintech e comportamento. E para quem é investidor ou empreendedor, é uma aula sobre como fazer uma tese funcionar na prática.
Nos encontramos por aqui no sábado com mais um playbook útil para a jornada das startups.
— Luiz
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